quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Quebra-cabeça

*Post rápido, já estou indo viajar (e acabei de chegar de Guarapari)! Por isso ainda não passei os olhos nos blogs amigos...mas me aguardem! :)



Numa semana reclusa em Guarapari, na companhia de meus pais somente, percebi algumas coisas sobre a vida. Enquanto meus pais dormiam pela tarde, mau costume de família, eu mergulhei na paciência de continuar a montagem do quebra-cabeça da minha irmã, de 1000 peças. Uma linda paisagem de algumas casas do interior da Alemanha. Fiquei lá horas e horas sem ver o tempo passar e fazendo minhas considerações sobre a vida, como não podia deixar de ser.


Enquanto as peças iam se encaixando, vi que nossa vida de relacionamentos é muito parecida com um quebra-cabeça. Cada peça representa uma pessoa. Pode ser um quebra-cabeça de poucas peças ou de milhares. O primeiro tipo é mais fácil de montar, mas o resultado final do último consiste numa beleza muito maior, apesar de sua complexidade.


As peças do canto, aquelas que possuem um lado liso, representam os nossos primeiros relacionamentos, as pessoas mais próximas. Nossa família, por exemplo. Nossos pais, irmãos, avôs, primos e tios são todos ‘peças do canto’. Constituem a base para montarmos nosso quebra-cabeça inteiro. A partir deles, encaixam-se as outras peças, secundárias mas não menos importantes.


Nossos amigos de infância ou de longa data, aqueles mais próximos, são as peças mais bonitas. São aquelas peças que você olha elas sozinhas e vê que são diferentes. Dá pra saber exatamente onde elas se encaixam, porque não são iguais às outras. São as peças que têm um canto mais colorido, uma linha que passa no meio de seu desenho ou possuem uma cor mais escura do que as outras. Seja qual for seu diferencial, são únicas e você sabe exatamente a hora certa de encaixá-las no desenho total.


Algumas peças nós teimamos em montar no lugar errado. São aquelas que parecem perfeitas para aquele lugar, mas na realidade só se encaixarão perfeitamente quando você monta-las no desenho certo. Sabe quem são? Aquele melhor amigo que você confundiu com a peça de ‘namorado’ e depois descobriu que ele era a peça de ‘apenas amigo’ mesmo. Ou aquela amiga que ficou ali na periferia do desenho, mas que mais tarde você descobre que ela fazia parte das peças mais importantes, as peças-chaves. Ou então aquele cachorro de rua que você achava que era de outra paisagem, mas que se transforma numa peça que sempre te traz felicidade, que você se orgulha de ter encaixado no seu próprio quebra-cabeça. São peças de quem nós rimos no futuro, por causa das ocasiões em que descobrimos os lugares certos.

Existem também aquelas peças que você jura que não vieram na caixa. Você começa a afirmar que o quebra-cabeça deve ter vindo com algum problema. Até ameaça ligar para a loja, porque não é possível que você não acha as benditas. Fica aquele espaçozinho ali no meio do desenho e a agonia começa a bater, porque só faltam essas peças para a beleza se completar. Você até imagina como elas são, pela continuidade do desenho, e então se põe a procurar pelo chão e não as encontra. Procura no meio das outras peças, e nada das peças. Procura até na parte já montada (talvez você montou alguma peça no lugar errado) e não acha. Essas são as pessoas que ainda vão entrar na nossa vida. Não adianta procurar com tanta ansiedade, que normalmente elas aparecem quando você menos espera, e aí a felicidade é inexplicável. São peças muito importantes do quebra-cabeça, que fazem toda a diferença. São os nossos futuros melhores amigos, nossos namorados, nossos maridos e nossos filhos. Eles preenchem aquele espaço que estava faltando com maestria e emoção.


Agora, cuidado. O que pode acontecer é bater um vento fortíssimo e derrubar tudo o que você tinha montado. Algumas peças continuarão encaixadas, por causa da rede forte de peças que você construiu. Por mais que ver tudo destruído irrite você, o mais interessante é remontar tudo, respirando fundo e revendo quais as peças mais importantes a serem montadas primeiro.
Não importa qual o desenho final do quebra-cabeça, contanto que ele seja algo que te agrade muito. Sem dúvida, este é um quebra-cabeça montado durante toda nossa vida, com muita paciência e dedicação. Devemos escolher bem as peças, saber mais ou menos onde elas se encaixam (ou não ter a menor idéia contanto que possamos consertar depois), e entender que cada peça é única. Mesmo que uma peça tenha uma cor exatamente igual a outra, você verá que não são iguais em sua forma. No final do quebra-cabeça, todas poderão ser relembradas (“lembra como demorei para encontrar tal peça?”), cada uma com o nível de importância que você dá a elas.

Seja como for, o desenho é seu. Monte do melhor jeito possível e não se esqueça que você é uma peça do quebra-cabeça das outras pessoas.