domingo, 25 de maio de 2008

Love is watching someone die


Era um outono frio e triste. De olhos semi-fechados ela correu, num tom desesperado, até o corpo pálido de seu amigo. Ajoelhou-se e apoiou suas mãos naquele chão cinzento e sujo. Olhou a estátua mórbida que tinha virado o menino alegre que gostava de correr e jogar futebol na rua perto de sua casa. Quantas vezes eles não trocaram palavras de amor disfarçadas de ofensas e abraços calorosos mascarados de brigas sangrentas? Ele a amava. E apesar de xingá-la como num ritual diário, ele admitia sua admiração ao pedir por seus beijos sempre quando fazia algum favor a ela. E ela fazia caretas de nojo em resposta. "Nunca!" Ela dizia numa certeza sem fim. A verdade é que eles eram muito crianças para algo mais do que aventuras infantis: encontros rotineiros para roubarem frutas de uma fazenda afastada do bairro. E o romantismo era comer aquelas frutas mais do que podiam, até que uma dor de barriga os assaltasse como um ladrão oportunista. Mas era melhor do que sarrafos ao chegar em casa com comida furtada. Seus pais eram pobres, mas não ladrões.

Agora ele havia partido. E ela estava ali. Seus olhos correram sem controle pelo corpo dele, desejando que a vida se instalasse ali novamente. Pegou sua mão e chamou por seu nome. Silêncio. A morte chegou melancólica e levou a alma do garoto. Sua franja loura, que pendia para o lado, foi acertada pela menina, que chorava sem esperança. Seus lábios, molhados de lágrimas negras, se encontraram com os lábios secos e frios dele. O beijo selou uma real amizade e marcou uma triste despedida. Como ela queria um milagre... Fechou os olhos e esperou um instante. Quem sabe, quando ela os abrisse novamente, lá estaria aquele sorriso gostoso.

Mas, como havia de ser, nada aconteceu. Logo uma multidão se aproximou e ela foi afastada, se deixando levar. Não lutou contra se afastar daquela cena. Preferiu arrastar seus pés até em casa. Abraçou seu pai, o único que realmente a entendia, e deitou em sua cama. Chorou até que adormecesse de cansaço e sonhou. Com ele.


Seu melhor amigo teve o privilégio de estar nos sonhos dela, coisa que sempre desejou mas nunca conseguiu em vida. Agora ele estava em suas mente, rindo, falando besteira, jogando futebol no outro time e pedindo um beijo (insistentemente, como sempre fazia). Um sonho-despedida.


Na manhã seguinte ela acordou com a cabeça doendo e demorou uns minutos até que se lembrasse do dia anterior. "Saukerl". Era como ela sempre o chamava: um xingamento constante. Foi o que pintou mais tarde no porão junto com as outras palavras difíceis de serem pronunciadas. Ali ficou olhando aquela palavra por horas até que a fome falasse mais alto.

"Adeus, amigo."


Apagou a luz do porão como se o apagasse de sua memória. Mas aquele filete de luz permaneceu por anos e anos. Ainda bem. Um primeiro amor não deve ser esquecido tão instantaneamente.
(Inspirado no livro "A menina que roubava livros" de Marcus Zusak. Título retirado de um trecho da música 'What Sarah said' do Death Cab for Cutie).

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Por que com travestis?

Só uma notícia-bomba para desviar a imprensa do caso Isabella Nardoni, e essa bomba estourou na semana passada, quando se soube que o jogador-fenômeno Ronaldo estava num motel do Rio de Janeiro com três travestis. O caso alcançou tal notoriedade que cogitou-se a perda, pelo jogador, de importantes patrocínios.
Não sei se Ronaldo contratou os travestis achando que eram prostitutas. Também não sei o que aconteceu realmente naquele quarto. O que sei é que, como sempre, o julgamento humano já foi feito e o jogador terá para sempre sua imagem arranhada.
Mas o que leva alguém a procurar um travesti?
Homens que se travestem de mulher não desejam mudar de sexo, e homens que procuram travestis sabem bem o que estão procurando. Na maioria são casados e estáveis financeiramente. Não querem ser taxados de homossexuais ou bissexuais, por isso buscam na aparência feminina dos travestis uma desculpa para a realização de suas fantasias de sodomia. Que ninguém se engane: em boa parte dos programas, o travesti é o ativo. Aliás, em qualquer anúncio tratam de exaltar o tamanho do “dote”, que é o que interessa aos clientes. Se estes quisessem uma mulher, buscariam prostitutas.
Mas por que os maridos têm deixado suas esposas para buscarem, lá fora, o prazer que deveria haver dentro do casamento?
Seja com travestis, ou prostitutas, ou amantes, ou no onanismo, há uma infinidade de casais infelizes, que buscam, fora, solução para seus problemas. O próprio Ronaldo estava noivo, mas mesmo assim foi atrás de prostitutas/travestis, e não uma, mas logo três. Muitos que estão nas igrejas agem da mesma forma, seduzindo e sendo seduzidos por outros da mesma igreja, a quem deveriam tratar como “irmãos”, pois assim é que Jesus nos vê. Outros, saem da igreja e vão buscar fortes emoções na internet ou em encontros pagos. Embora pareça, o sexo desenfreado não é uma panacéia, um remédio para tudo!
Muitos temos visto o sexo desregrado como refúgio, alívio, solução. Que quem está lá fora no mundo veja dessa forma é compreensível, pois estão como que mortos e tudo é ilusão. Mas para quem um dia aceitou ao Deus Vivo, a Jesus Cristo, é muito triste ainda se deixar enganar. O orgasmo pode, por alguns minutos, inebriar a mente, mas o efeito passa muito depressa e deixa, atrás de si, um sentimento de vazio ainda maior. Deus criou o homem e uma ajudadora para ele, mas o Pai da Mentira quer mostrar que mulher, família são coisas do passado: o bom e moderno é amar meninos e meninas, é sentir todas as formas de prazer com o maior número possível de pessoas, e ainda tem gente que acredita e que acha que “amar ao próximo” é ter que transar com ele.
Amar ao próximo é respeitá-lo, é honrá-lo, é ajudá-lo, não é seduzi-lo, comprá-lo, humilhá-lo. Quando vemos travestis dando “piti” muitas vezes achamos até engraçado, pois não conseguimos ver, através daquele rosto cheio de enxertos, daquele corpo deformado muitas vezes com silicone líquido, substância que pode ser muito prejudicial e causar muita dor e sofrimento, um ser humano. Mas é verdade, por detrás daquela “traveca” que pediu 50 mil para não difamar o Ronaldo, existe uma pessoa que foi criada à imagem e semelhança de Deus, mas que o Pai da Mentira convenceu de que não era nada, de que não valia nada, de repente apenas alguns reais por programa. Que o Príncipe desse Mundo convenceu de que não tinha nada, nem caráter, nem vergonha, e que por isso poderia fazer escândalos na tevê, inclusive quebrando equipamentos de uma emissora. E o engano é tão bem-feito que nos convence a todos, que ou estamos lhe jogando pedras, ou as jogando no jogador, aquele “safado sem-vergonha”. Mas será que não temos, também, coisas ocultas tão horripilantes que, se viessem à tona, escandalizariam não só à Igreja, mas a todo o mundo?
Não é fácil a vida de jogador de futebol. Na maioria vindos da pobreza, de uma hora para outra se vêem cercados de dinheiro, mulheres e fama. É uma mudança de enlouquecer qualquer um, a ponto de cometerem grandes bobagens.
Não é fácil a vida de um travesti. Desde cedo humilhados por sua homossexualidade, muitas vezes rejeitados por suas famílias, vão para as ruas onde, para sobreviver, são obrigados a deformar seus corpos e vendê-los a qualquer preço. Por serem alvos de playboyzinhos metidos a besta, de clientes violentos e até da polícia, aprendem a manejar o estilete e sabe-se lá que armas brancas, afinal melhor ferir ele do que eu. A vida nas ruas os torna animais em busca de sobrevivência.
Meu noivo trabalhou durante alguns anos com evangelização de prostitutas e travestis, no centro de São Paulo. Ele viu travestis serem recuperados, aceitarem a Cristo e mudarem de vida, mas não é fácil, pois são pessoas muito, muito feridas. Infelizmente ainda passo na Av. Indianópolis à noite e vejo os carrões importados de honrosos pais de família parados, combinando preço com as prostitutas e travestis do local, talvez porque às igrejas interessa mais converter os crentes de outras denominações para a sua, do que resgatar as vidas que mais estão em perigo – as que estão dentro e fora dos carrões.
Retirado do site SexxxChurch: http://www.sexxxchurch.com (investirei mais tempo para ler seus artigos...fico feliz em ver a comunidade cristã abrindo a mente, sem deixar o evangelho de lado.)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A casa dos meus sonhos - parte final


Meu segundo andar. Aqui estão os cômodos mais preciosos. Onde passo minhas noites e boa parte do meu dia, onde devoro livros e paisagens. Suba a escada com calma, não quero ver ninguém tropeçar. Agora veja, logo aí na sua frente, esse móvel que me traz ótimas lembranças! Está vendo essas fotos? Cada uma representa uma fase importante da minha vida: colégio Americano, CEFETES, faculdade, primeiro emprego, casamento! Depois conto a história de cada uma. Vem correndo conhecer meu quarto, meu refúgio! Minha cama não é assim tão grande, mas seus lençóis compensam em beleza. Não é que são tão finos, mas são alegres e combinam com o quarto (e comigo). O meu armário é embutido na parede, para ocupar menos espaço. Tem um tapete redondo em frente à cama e uma televisão não encontra espaço aqui. Está vendo ali no cantinho aquela mesa bagunçada? Eu chamo de minha oficina de criatividade. É ali que escrevo minhas cartas, desenho, faço colagens infantis e invento. E ai de quem me interromper nessas explosões criativas. À frente da mesa vejo minha parede diferente, toda escrita artisticamente com textos, poesias, frases e versículos. São meus ânimos para manhãs escuras. Ah, claro, aqui é o banheiro! Sempre limpo e cheiroso, com um grande espelho de corpo inteiro. A pia serve de apoio para alguns dos meus produtos cosméticos e meu chuveiro é literalmente uma ducha. Não tem água quente, uma forma de economizar energia e ao mesmo tempo cuidar do meu cabelo (e corpo).

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Deixando as lições ecológicas de lado, vamos para o próximo cômodo: minha biblioteca particular. Esse sim, meu cômodo interno favorito. Duas cadeiras individuais reclináveis mais ao centro e tudo em volta são estantes e estantes de livros, somente interrompidas pela porta que leva à varanda. As estantes estão divididas por temas: romances, infanto-juvenis, ficção, religiosos, científicos, didáticos. Apesar do meu pequeno ciúme, não me importo de emprestá-los, contanto que eles voltem sãos e salvos. Sento aqui e leio e releio meus livros, constantemente renovados. Às vezes não resisto e tiro um cochilo pós-almoço. Por isso prefiro ler nos finais de tarde.
O próximo cômodo é um quarto de diversões. Sim, ali está uma infinidade de fios e dá para sentir o cheiro de eletricidade. Minha modesta televisão, meu videogame antigo e 1001 jogos, meu computador, meu rádio, meus jogos de tabuleiro, um grande espaço e um sofá grande e confortável. Na maioria das vezes uso esse quarto acompanhada. Quase sempre prefiro me afundar nas leituras. Agora só falta um quarto: o quarto de hóspedes. Este quarto será redecorado quando meus filhos nascerem. Por enquanto é para meus amigos que perdem a hora aqui em casa e para parentes que vieram de longe. É um quarto muito gostoso, grande. Tem duas bicamas e o banheiro fica no corredor, logo ao lado. Não entrarei em detalhes, porque você um dia irá conhecê-lo de perto, pessoalmente.
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Vamos até a varanda. Meu sonho de consumo desde minha infância: a rede. Quando deito nela consigo ver meu quintal, e contemplar a natureza. São nesses momentos que mais chego perto de Deus, e agradeço por tudo o que tenho. Há um espaço à frente da varanda, sem proteção, mas que permite que possamos andar nele. Não é raro me ver sentada ali, com as pernas penduradas para baixo. É uma sensação de liberdade besta e sem importância, mas me faz bem. Às vezes levo um livro para me acompanhar, ou a máquina fotográfica para registrar as borboletas de mais perto.

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Olha, fica mais tempo por aqui. Quero mostrar como é meu dia-a-dia, e adoraria tê-lo por perto. Combinado. Próximo fim de semana. Minhas receitas, meus livros e eu te esperamos.