domingo, 20 de setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Resposta


Lá estava ela novamente imersa em seus pensamentos e confusões. Como qualquer ser humano, complexa e difícil de interpretar, ela mesma não sabia o porquê de suas próprias atitudes. Se via presa ao infortúnio do inconsciente e incontrolavelmente se sentia amarrada à ilusão da segurança. Bendita segurança... só encontrada em Deus e não no algemar de nossas próprias mãos. Consciente disso, depois de um reveillon muito deprimente, decidiu tomar atitudes concretas. Atitudes que a petrificavam, que doía em seu corpo todo porque fugiam ao seu controle, mas que, já sabia ela, trariam acalanto ao final de tudo, mesmo que no caminho houvesse pedras e espinhos. Foi então nesse ano que ela expôs seu coração como um produto tímido na vitrine de uma grande loja visitada por uma única pessoa; e foi também naquele momento que decidiu concretizar o desejo de ir para muito longe - só para estar mais perto. E ao fazer tudo isso se via pulando de pedra em pedra num rio caudaloso: trazia medo, mas trazia esperança de chegar ao outro lado. Era enfrentar a correnteza ou não chegar a terra de Oz. Os escorregões fizeram doer, machucar e os ferimentos iam demorar a se fechar, mas era preciso. "Pula logo!" Gritavam ao seu ouvido. Mas os seus passos eram lentos e tentavam ser seguros, firmados primeiro com o pé direito na rocha e logo mais seu corpo a acompanhava. Não havia necessidade de correr pelas pedras, cheias de limo e algumas soltas, o melhor era ir devagar, contanto que chegasse até a terra firme.

Poucos a conheciam como ela mesma. Era mais espontânea do que demonstrava, e mais livre do que parecia. Tinha cultivado o romance somente nas poesias e músicas de Vinicius e esperava o dia em que cantaria para alguém. Via simplicidade nas coisas da natureza, e não hesitava em parar por alguns minutos em qualquer lugar em que Deus se manifestava: uma aranha tecendo uma teia, uma formiga carregando um pedaço de folha, o ajudar de um necessitado, a doação de coisas que lhe fariam falta. Tentava fugir de seus hábitos sempre que possível. Andava a pé até em casa para observar as casas que tanto almejava: casas simples, com grandes jardins. Ouvia músicas tristes para se compadecer do autor da música, concordando com Elton John: "Sad songs say so much". Orava pela pessoa desconhecida do ônibus, porque parecia cansada e desiludida. Comprava pipoca doce no caminho escuro até em casa, só porque tinha saudades de sua infância. Ia ao cinema vazio sozinha para descobrir que gostava de filmes franceses. Admirava a Lua de dia, subestimada e desfocada pelo Sol, sem o poder dado pela escuridão, e isso a fazia lembrar de si mesma. Concluía que estar com alguém tão diferente do seu próprio espelho (e ao mesmo tempo assustadoramente parecido) era a prova maior de que preferia estar desconfortável a não se mover. Estar apaixonada por alguém que não acredita na paixão é tão contraditório quanto ela mesma. Tentar conquistá-lo era mais um desafio tomado como crescimento. Por que sofrer tanto? Amar alguém que te ama de volta sem vacilar não é desafio algum.

E ainda diziam que ela tinha medo de arriscar...poderia até ser verdade se não houvesse tantos fatos provando o contrário. Ela tinha acabado de perceber: nada como nadar contra a maré para provar sua própria força.