terça-feira, 9 de outubro de 2007

Depois de um dia melancólico

Término do dia. Lá foi ela encostar na varanda, como usualmente fazia naquela hora, para refletir sobre aquela vista sem-graça de sempre. Ao olhar por aquele ângulo, só se via a sua rua, calma e vazia, e o que salvava naquela paisagem era uma exuberante árvore, que estava sempre disposta a dar ‘bom dia’ e ‘boa noite’ a quem a contemplava. Com seu prato de biscoitos doces na mão, pensou um pouco sobre como seu dia tinha sido insignificante, comparado aos que antes lhe sobrevieram. Estava um pouco cansada de tanta superficialidade, de tanta gente mesquinha que impregnava seu ambiente de trabalho. Olhou para seu cachorro, um gordo e feliz beagle, e pensou que talvez seria ele, esse ser carinhoso, o único amigo dela. Ficou triste por saber que tudo ali parecia muito temporário e breve. Tentou esvaziar a mente e beliscou os biscoitos sortidos..jogou um pedaço pro seu beagle, que fez uma cara tão grande de satisfeito que parecia que tinha ganhado o mundo. Ela sorriu diante de tamanha felicidade demonstrada pelo cachorro e desejou que as coisas fossem tão simples assim pra ela também. Mas não queria ficar triste durante aquele resto de dia. Apesar de tudo e todas as circunstâncias colaborarem para isso, ela viu que talvez tudo poderia ser apenas tempestade. E que o que ela precisava mesmo era de uma viagem para uma bela praia a fim de refrescar a mente, a alma e o corpo. Quem sabe não arranjaria grandes amizades ou reencontraria aquele grande amor da vida dela? Começou a procurar vários panfletos de propaganda de hotéis que ela tinha guardado em uma caixa de sapato velha, no fundo do armário. Folheou todos e descobriu um perfeito: no nordeste brasileiro, uma bela pousada com uma rede na varanda, sombra e água fresca todo dia. Em frente a praia de águas límpidas e imensos coqueiros. De quebra, permitia animais. Deu um pulo de alegria e esqueceu a melancolia que há 10 minutos atrás arrematava sua felicidade. Pegou o telefone e agendou tudo pro feriado mais próximo. Ligou pra aquela sua amigona, que estava a quilômetros de distância, e que fazia muita falta a ela. Fez um convite inusitado e ficou surpresa de sua amiga ter aceitado de prontidão! Tudo estava perfeito agora. Mal podia esperar para reencontrar aquela amizade, relembrar os bons tempos (aqueles que não voltam mais haha), jogar baralho acompanhado de vinho até de madrugada e rir até ficar sem ar.
Passou a levar os dias seguintes com mais tranqüilidade, até arriscava uns ‘bom dias’ para estranhos e ria baixo quando imaginava como aquele feriado ia mudar seu humor. Sem perceber, essa viagem já tinha mudado muito de seu jeito de encarar o dia-a-dia, mesmo sem ter acontecido ainda. Quando chegou o dia da viagem, ela mal conseguia se segurar. Jogava, com muito esforço, seu beagle pra cima e pra baixo, rolava com ele no tapete e gritava da varanda pra todos ouvirem: “Vou viajar pra longe desse lugaaaar!! Sintam minha falta, ó seres insignificantes!!” Seu beagle tava achando aquela cena muito engraçada, e ficava latindo e olhando pra sua dona, que estava mergulhada num lapso de loucura momentânea.
Ela parou e olhou pra ele com uma serenidade incomum. Agachou, olhou nos olhos de seu melhor amigo e disse: “Se prepare, sr. Beagle gordo, vamos pra terra do nunca, pra ilha perdida, pra praia de lost!” Ele não podia ficar mais feliz..pulou em seu colo e lambeu todo seu rosto, como se tivesse entendido a mensagem.
O mais importante foi que ela percebeu naquela hora que a felicidade estava ali e agora, e que os dias seriam melhores se ela soubesse levá-los daquele jeito: tendo em mente um futuro feliz... Seja este futuro uma simples viagem ou uma vida abundante e cheia de significado pela frente.

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