domingo, 26 de agosto de 2007

Lição de Árvore [Valéria Piassa Polizzi]

Assim eu a chamava, "a minha árvore", linda, alta, forte, imponente. Estava lá desde o dia em que mudamos para aquele apartamento, bem em frente à janela do meu quarto, no sexto andar. Durante o dia eu a olhava banhada pelo brilho do sol. E, também, à tarde, quando chegava a hora de ele se pôr, deixando o céu todo tingido de cor-de-rosa alaranjado, como se já estivesse com saudades. Lá permacia ela, imóvel com suas profundas raízes que eu só podia imaginar e que me faziam crer que jamais me deixaria.
Nas noites de lua cheia e céu estrelado, eu gostava de ficar horas sentada apreciando o contorno dos seus mil galhos em forma de uma mão gigante e aberta. Parecia até que ela estava ali para amparar e proteger minha janela e quem mais estivesse lá dentro de cada.
Minha árvore - que, na verdade, nunca foi minha, porque as árvores não têm donos - ficava do lado do meu prédio. Um lugar abandonado, cheio de mato, plantas e outras árvores menores. Era a minha minifloresta, que deixava a conturbada São Paulo menos cinza, menos feia e morta.
Mas o terreno tinha dono e, um dia, soube eu, foi vendido. Iam construir uma mansão. E a minha árvore, o que seria dela? Será que alguém teria coragem de tirá-la dali? Se fôssemos índios, certamente, não. Entretando, há muito tempo deixamos de ser. Hoje, somos homens civilizados, que matam, derrubam e destroem. Traem a própria Mãe Natureza, para em seu lugar construir prédios escabrosos. Nós nos julgamos donos da Terra, esquecendo que somos filhos dela. Pensei em falar com o novo proprietário e implorar para que poupasse aquela árvore. Um discurso assim: "olha quanto bem ela faz a essa cidade!". Mas quem se importa? Hoje em dia, quem gasta um segundo do seu dia para namorar uma árvore? Que direito tinha eu de interferir em sua construção? Destruição...
E a minha árvore continuava ali, forte e majestosa, esperando por seu destino, guardando minha janela, enquanto eles limpavam o resto do terreno. Não, eles não teriam coragem de derrubá-la, aquela obrea de arte de Deus.
Um dia, cruzei um porteiro do meu prédio em frete ao terreno onde homens já trabalhavam.
- E aí, seu Zé, acho que essa árvore fica, não é? Ela é linda, seria loucura tirá-la daí.
- Que nada, menina, ela sai e logo. Já colocaram até veneno para a bichinha morrer. Vai comendo por dentro. Quando estiver toda seca, os homens chegam com os materiais e cortam.
Do chão, olhei para a minha árvore, seus troncos, seus galhos, suas folhas...Dali ela ficava maior ainda. "Ah, minha guardiã fiel, você está morrendo e nem me falou nada?" Procurei um traço de tristeza em seu semblante. Nem sinal. Ela era mesmo forte, morria com dignidade. Uma certa dignidade que só as árvores têm.
Dias depois, fui viajar. Fiquei meses fora, não vi quando cortaram a árvore nem quando foi arrastada dali. Melhor assim. Em seu lugar, hoje há uma bela casa com piscina, churrasqueira e jardim projetado.
Saudades? Muitas! Mas sinto que, de certa forma, ela ainda está aqui me protegendo, forte e viva dentro de mim. E, quando o sol brilha, ou tinge o céu de cor-de-rosa alaranjado, eu saio andando pelas ruas do meu bairro apreciando as árvores, esses seres tão calados que me dizem tanto. E agradeço: obrigada, "minha árvore", por ter me ensinado a amar e compreender.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa eu ja li o livro dela..
I gostaria de conhece-la..
Queira o e-mail dela..
telefone algo assim que eu possa fla com ela..
por favor ..!!
alguem me ajuda
á vida dela marcou muito em mim..

Unknown disse...

Queria muito ter o Email dela
ou o orkut ,assim como ela marcou minha vida concerteza marcou a de muita gente.