quarta-feira, 18 de junho de 2008

Universo ao redor dela

Era uma terça-feira na melhor cidade do mundo. Dia frio, com nuvens escuras, pouca cor, sem graça. Ela estava mergulhada em seus estudos para escapar de seus próprios pensamentos. O que tinha acontecido exatamente a uma semana aprisionou sua mente durante todos esses sete dias. Era hora de seguir em frente. Deixar os sentimentos passados para trás de vez. Mas ignorando todos avisos de alerta, entre conceitos matemáticos e probabilísticos, ela colocou para tocar aquela voz. Começo de um samba triste. Vamos lá: contas, somas e fórmulas. Um dedilhado... "Não vá pensando que determinou sobre o que só o amor pode saber, só porque disse que não me quer não quer dizer que não vai querer" Voz doce da senhorita Monte. Lapiseira descansou. Ela parou de tentar se distrair e ouviu aquela letra que já conhecia, mas que pela primeira vez fazia sentido de verdade. Ficou ali paralisada, só conseguia ouvir aquela letra:

"Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha o que considerar
Pensando bem pode até mesmo chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais...vai saber..."


Queria ela o otimismo da Marisa. Pensar que ele poderia se arrepender de rejeitá-la era pensamento de dia de muito sol e mar. Mas o dia era frio e escuro, lembra? Deixou os estudos de vez e se foi. Como era comum de acontecer, se deixou levar pelos pensamentos mais negativos possíveis. Aqueles que tomam conta de sua auto-estima, que destroem tudo o que você tem de bom e doce.

A mesma lua que viu aquela cena da semana passada estava logo ali na janela, brilhando sobre a menina triste. Esta não se permitia ter esperança, não se permitia ser feliz. Lágrimas no travesseiro e gritos de desespero tomavam conta do quarto, que ia ficando cada vez mais escuro. Ela queria alguma salvação, mas não encontrava nada fazia tempo. Hoje não tem reviravoltas, não tem otimismo. Ela se deixou levar por essa onda doentia até a lua se despedisse e o sol chegasse. Nasceu um novo dia mas não nasceu um sentimento mais nobre. Se arrastou pelo dia como pôde e se cansou. Pegou um livro pra ler mas não conseguiu ler uma palavra. Ligou pra seu melhor amigo e o telefone estava ocupado. Esse era um daqueles dias para ser apagado rapidamente da memória.

Depois daquele dia ela decidiu nunca mais se abrir tanto, nem ser tão vulnerável com ninguém. Decidiu que ia ser mais uma daquelas pessoas que um dia foram feridas e resolveram não se apegar a nada, nem a um retrato, nem a um cheiro, nem a ninguém. Mas foi uma decisão tão estúpida para o tipo de pessoa que ela era, que essa impessoalidade toda não durou muito.

Depois de algum tempo, ela já estava amando a vida novamente, sem medo, sem barreiras. Na esperança de ter alguém que realmente a merecesse e a amasse integralmente. Ela esperaria, não importa quanto tempo passasse.

Um comentário:

Filipe Garcia disse...

Ah, Flávia. Bom saber que, num canto qualquer dos nossos corações, ainda habita a esperança.

Seu texto é bonito e consegue mexer com as emoções do lado de cá.

Beijo.