domingo, 26 de julho de 2009

Inescapável

Por que quando estamos doídos, dilacerados, cansados e inconformados fica mais fácil de escrever? Sempre achei que a alegria de um novo amor, por exemplo, seria uma inspiração constante, mas o que aconteceu foi o contrário. Na perda, entre lágrimas, mergulhada em sentimentos perturbadores as palavras correm para minha mente e pedem para serem liberadas. Talvez desabafo seja a palavra certa para descrever essa situação. E o oposto, quando eu estava feliz da vida, as palavras fugiam e corriam na direção contrária. Que engraçado. Será que sou aquele tipo de pessoa que adora um drama? Sempre pensei isso de mim, que talvez eu realmente curtisse momentos tristes e devastadores. Isso explicaria minha grande queda por livros de romance com final infeliz e filmes de drama que quebram o coração.

Vi que a maioria dos compositores da minha lista de músicas compartilham sentimentos parecidos de tristeza e desilusão. Só ouvir Love is a Losing Game, Love is Hard ou All The Way Down que já me imagino sentada no tapete da sala trocando figurinhas com James Morrison, Amy Winehouse e Glen Hansard sobre amores perdidos e prometendo sempre não desistir de achar a pessoa certa. De preferência com uma taça de bebida em uma mão e um violão na outra. Depois a gente ria de todas as nossas experiências, sem saber se era por causa da bebida ou por causa do aroma de otimismo que começava a subir no ar.

Ao menos tenho crescido nos meus sofrimentos. Tenho entendido o que é família de verdade. Tenho perdido a vergonha de admitir que sou fraca e insegura. Tenho visto que chorar faz parte da vida, mas que as gargalhadas devem sempre sobressair. Aprendi a conversar sobre meus sentimentos e a cobrar das pessoas o que quero. Às vezes somente abrir mão da minha vontade pelas pessoas desgasta, e tira a autenticidade que sempre prezei. Nesses momentos que descubro quem são meus verdadeiros amigos e quem são aqueles que fazem muita falta. Minha visão fica seletiva para certos programas de televisão e me dou a chance de me recuperar no tempo que for necessário.

Enquanto isso alimento minha veia poética e me divirto em saber que não sou a única no planeta que sofre por amor. Talvez seja uma condição natural do ser humano. Se a vida não fosse assim, não teria graça alguma e as histórias seriam pobres e irreais demais. Então me permito sofrer sim. E cair, para me levantar quantas vezes for preciso.

::::

Ainda ouço meus amigos cantarolando...

And you have broken me all the way down,
you'll be the last, you'll see.(Glen)

Love takes hostages and gives them pain
Gives someone the power, to hurt you again and again (James)

Why do I wish I'd never played
Oh what a mess we made
And now the final frame
Love is a losing game (Amy)

6 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Olá, querida, penso que não estás a fazer dramas. É que a escrita é uma espécie de ponte onde conseguimos transpor o vazio, e o vazio é algo inerente ao viver, sempre teremos que lidar com o desamparo primordial.
Depois escrever de algum modo, em alguma medida nos conecta com forças que movem catárticamente o que sentimos.

A dor é inescapável ou de outro modo não escapamos à dor. Mas talvez não seja preciso fazermos drama porque somos sós mas não estamos sozinhos, sabe?

Abraço amigo e igualmente, obrigada pela visita e comentário.

Darshany L. disse...

flavinha, e não é que somos muito iguais?
:~

tô preocupada com vc. se quiser me mandar um email pra contar da vida... mesmo eu sendo aquela pessoa que nunca continuou a mandar emails. :/

:*

bia de barros disse...

"Yeah, you bleed just to know you're alive." [Goo Goo Dolls]

Fico feliz de saber que você tira tanto aprendizado das coisas ruins. E das coisas boas, não se preocupe em tirar nada - mas em vivê-las, antes que acabem :)

Te cuida,
Bjus ;*

Sueli Maia (Mai) disse...

Linkei você, sem problems?
Abraços,

Filipe Garcia disse...

Oi Flavinha,

diria Friedrich Nietzsche ao ler suas palavras: “É preciso ter caos e frenesi dentro de si para dar à luz uma estrela dançante”. A tristeza causa rebuliço dentro do peito, daí nasce a poesia, numa resposta urgente ao nosso chamado. Que bom termos esse escape! Feliz daqueles que sabem usá-lo.

Beijo!

Lucas M. Lessa disse...

Flávia,
o Imaginação Insana , está de volta, depois da uma força lá.
Bom, sobre o post,
lembro de Drummond,
"E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana."

é verdade
nao teria graça nenhuma
um beijão