sábado, 1 de dezembro de 2007

Bom é estar de volta

Era uma noite de sexta-feira sem lua. O céu estava sem estrelas, sem satélites e sem graça (ó! Parece até hoje ¬¬’). Ela tinha acabado de chegar em casa, e tudo parecia muito bem, apesar do dia ter sido um pouco cansativo. Só vinha uma coisa na mente dela, como um mantra a ser repetido durante toda a semana: não se deixe abalar pelas circunstâncias. Muitas coisas ruins foram jogadas em seus dias, mas ela tinha se mostrado forte até a noite anterior, quando lágrimas saltavam-lhe aos olhos. Tudo involuntário decorrente de uma condição clínica decorrente de final de ano: estresse. Ela precisava de um momento bom. Precisava se distrair. Pensou que a única coisa boa a se fazer nessa hora era contemplar um bom filme – era seu passatempo predileto.
Lá foi ela até a sala, abrir o guia de filmes. Foi até a data do dia presente e correu o dedo por cada título daquela página azul e branca, de papel ruim. Riu do nome de alguns filmes e reconheceu outros, mas até ali, nada parecia bom. Hmm, terror não. Filme chato repetido? Acho que não. Filme desconhecido num canal alternativo? Sem disposição para isso. Ainda sem ligar a televisão, lançou seu olhar sobre seu canal favorito: aquele de filmes leves. Sabe aqueles filmes que são puro entretenimento? Aqueles que te fazem rir e chorar ao mesmo tempo, que tira um peso das suas costas, que não te atormenta. Era aquele canal que nunca faria ela se sentir mal por alguma causa social ou a faria pular de susto a cada cena. Era o canal que cabia para o momento. Leu um nome: ‘ABC do amor’. Que horário? 18h55min. Olhou para o relógio: 18h58min. Perfeito. Agarrou o controle remoto, ligou a TV, jogou-se no sofá e abriu um sorriso de satisfação. Ela odiava ver filme, seja em casa ou no cinema, sem ninguém do lado, mas abriu os braços pra essa situação. Quem visse a cena diria que era o retrato patético da solidão: um sofá de três lugares com uma pessoa esparramada no canto, naquela sala grande e vazia. Mas quem ligava? Era algo diferente e parecia uma ótima idéia, até porque não dava tempo de chamar ninguém pra acompanha-la, e pra falar a verdade, ela precisava de um momento sozinha. Estava cansada daquele tanto de gente sugadora e superficial que atormentavam seu dia-a-dia. As únicas pessoas que seriam perfeitas para o momento estavam longe. De qualquer forma, preferiu realmente estar ali: ela e a tela.
Semanas atrás ela tinha visto o trailler deste filme. Tinha se encantado pelo modo como um menino de 10 anos narrava sua história de amor, em plena Nova Iorque contemporânea. O filme todo era uma propaganda implícita dessa cidade apaixonante, e a narração era muito bem feita. Todo o filme parecia muito bem composto, e isso foi confirmado. Aproveitou para ler a sinopse do filme, ao final do guia: “Little Manhattan (2005) - A cidade de Nova York é um local romântico, até quando você tem 11 anos e está se apaixonando pela primeira vez na vida. É isso que o menino Gabe (Josh Hutcherson) descobre ao lado de sua colega de escola Rosemary (Charlie Ray). Nesta comédia romântica, o amor é visto pelo olhar de duas crianças.”
Ela saboreou cada cena, cada filosofia demonstrada, cada afirmação sobre o amor, cada palavra e imagem. Não demorou muito para se apaixonar pelo filme. Deu gargalhadas, chorou de tanto rir e também chorou sorrindo num sentimento confuso de alegria e identificação com as situações. Afinal, quem nunca teve um primeiro amor? Era o tipo de filme que ela gostava. Um filme que fazia seu tipo. Aquele que fazia despertar nela sentimentos que não sentia fazia tempo. Um filme sutil, com mensagens sutis, romântico e realista ao mesmo tempo. Sem apelos sexuais (coisa difícil de acontecer atualmente), sem complicações, sem violência. Um filme ideal para o momento. Não queria que nada interrompesse sua concentração , então arrancou os fios do telefone fixo e desligou o celular. Foi maravilhoso.
O filme tinha curado ela: viu sua inspiração voltar depois de um tempo sem a companhia das letras e ficou feliz por tudo aquilo. Uma onde de satisfação e paz tomou conta do seu ser e teve vontade de gritar para todos verem a história do Gabe para compartilhar o que tinha sentido, mas a única solução que encontrou foi escrever, numa mistura de fantasia e realidade, um pouco sobre a situação numa página besta da internet.

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