segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Depois de uma autorização, mais uma crônica..

Ela, essa minha amiga, era a menina mais feliz que já conheci. Nunca pensei que qualquer fato que acontecesse pudesse fazê-la sorrir mais. É... Eu estava bem enganada.
Dentre nossas monótonas, mas às vezes excitantes, aulas da universidade, tínhamos aquele hábito de ir àquele recinto pequeno, mas bem simpático: a cantina. Nossa universidade tinha várias, mas essa era a mais perto de nossa sala, e não nos importávamos de comer a vontade aqueles pães de queijo do dia de ontem e os maravilhosos sucos de fruta. Mas é fato que aquela cantina tinha um atrativo a mais! Os atendentes, universitários como nós, eram muito simpáticos e sorridentes. Um prato cheio para nossos olhos, que se cansavam de ver gente estressada e carrancuda em sala de aula (incluindo os professores) e toda aquela gente mal-amada correndo para lá e pra cá sem fé na vida. Lá, naquela cantina, estavam eles, totalmente felizes, mesmo com tantos pedidos simultâneos gritados pelos impessoais e esfomeados estudantes. A gente nunca tinha entendido de onde vinha aquela alegria contagiante. Toda vez saímos de lá com uma nova força para encarar a aula... Seria por causa da fome saciada ou pela injeção de energia dada pelos atendentes? É um mistério. Mas voto na segunda opção.
Engraçado, dentre os atendentes, um se destacava mais! Era moreno, tinha um estilo despojado próprio, sempre sorrindo, nunca parecia se cansar de entregar os pedidos...corria pra lá e pra cá com uma disposição de dar inveja a qualquer sedentário. E foi ele. Ele que chamou atenção dessa minha amiga. Todas de nosso grupo concordávamos que ele era, de fato, uma gracinha. Mas ela não queria só isso! Queria conhecê-lo melhor, ver ele sem que um balcão os separasse. Não foi muito difícil que ela chamasse também a atenção dele. Ela era...esvoaçante! Cabelos cacheados sempre bem-cuidados, óculos de grau charmosamente encaixados em seu rosto, traços delicados e um sorriso maior que o mundo. Aos poucos ela foi se aproximando dele, com o apoio de todos, mas eu especialmente torcia por ela. Via nela muito potencial! Aquela inquietação toda, que saltava-lhe aos olhos, já fazia parte da rotina dela, e até de sua história de relacionamentos. A não-conformação com os acontecimentos do mundo, a inquietação no seu sentido bom, se encaixava perfeitamente em seu estilo de vida. Mas não me parecia bem que a inquietação também se impregnasse em sua vida particular. A paixão em si, longa e duradoura, ou pelo menos a firmeza de se gostar por muito tempo de alguém, combinava mais com ela. Essa afirmação não é uma opinião vinda de mim ou um devaneio que eu goste de pensar e ter em mente. Pra mim, é a realidade. Na verdade, se eu tivesse um poder controlador (ou algum poder especial, me contento com isso) sairia infiltrando paixão e consciência em todos, com uma pitada de racionalidade e um bocado de tranqüilidade. Era isso que eu queria fazer com essa minha amiga. Não demorou muito desde que eu a conheci para que isso acontecesse, mesmo sem eu ter nenhum poder sobre a vida dela. Bom, ela não sabe o quanto isso me trouxe tranqüilidade. Odeio ver vidas desperdiçadas com relações superficiais e desejos controláveis não-controlados. Mas essa opinião eu deixo pra outro dia.
A boa-nova é que eles, o atendente e minha amiga, se conheceram de verdade. Parecia óbvio que os dois combinavam, mas ninguém tinha certeza de verdade. Para nosso contentamento, isso foi confirmado por ela. E acho que por ele também. Ele não tinha medo de mostrar sua admiração por ela e ela fazia o mesmo com ele, mesmo que de um jeito meio descontrolado e abobalhado. Ele não ligava, adorava tê-la em seu lado, era como se os dois tivessem realmente (desculpe-me o ridículo clichê) nascidos um para o outro. Ir à cantina ou não passou a depender do humor de nossa amiga. Quando eles estavam bem um com o outro, lá íamos nós, o bando, ser feliz alimentando nossa preguiça. Quando acontecia um pouco de babaquice emocional ou falaçãozite (Bridget Jones, pode me processar pelo uso sem permissão de seu vocabulário!), lá íamos nós, fiéis escudeiras, à cantina do outro lado do mundo, não menos gostosa que a primeira (mas desfalcada de atendentes sorridentes). Foi assim que a gente acompanhou o relacionamento dos dois, entre um intervalo e outro, entre idas à cantina e aulas cabuladas. Dividindo o tempo de assunto entre nossos próprios relacionamento e a vida de nossa amiga, íamos formando aquela torcida organizada para que os dois dessem sempre certo.
Queria eu dizer que no final o relacionamento deles ficou muito bem mesmo, alegrando toda a torcida e ganhando força cada vez maior, sendo sustentado pelos fortes sentimentos recíprocos. Sendo assim, o relacionamento dos dois só ia terminar num horizonte muito distante, quase invisível. Mas não foi isso que aconteceu.
Eu poderia escrever aqui que, agora no futuro, a inquietação da minha amiga atrapalhou um pouco, porque ter um coração indomável era seu destino eterno. E entre um e outro relacionamento fracassado ela lembrava com saudade do menino da cantina. Aquele que, pelo menos por um momento, tirou-lhe horas de sono e estudo em troca de sorrisos e afagos. Mas também não foi isso que aconteceu.
Essa crônica acaba por aqui, e o destino do relacionamento dela eu coloco nas mãos dessa minha amiga, nada mais que minha personagem, na esperança de que mesmo ela sendo apenas uma mera personagem, ela saiba usar todo seu potencial com responsabilidade e paixão pelas pessoas de sua vida.
Eu, como uma coadjuvante escritora, torço para que no fim, eu ainda veja muitos sorrisos na vida dela, não importando se a razão deste seja o menino da cantina, o menino da praia, o menino da biologia ou qualquer outra coisa que a faça sorrir mais que o normal. [baseada em fatos reais. =X]

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