
Numa sexta-feira fresca, a menina das melodias chega à UFES. Mais cedo que o normal para regar e fazer medições em alguns pés de acerola, cumpriu deveres de uma de suas disciplinas. Depois de andar um bocado por causa disso, chegou cansada para beber água. Viu então um cartaz perto do bebedouro: um convite a uma viagem que tinha feito anos atrás, com entrada franca. Uma viagem para reconhecer Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain. Saiu em busca de companhias que estivessem dispostas a trocar o almoço por esse outro alimento mais divertido, mas ninguém se dispôs. Estavam mergulhados nos próprios problemas acadêmicos e no ruído de seus estômagos. Mas ela estava decidida: nem que fosse sozinha, iria ao cinema sim. Ela sabia, mais do que ninguém, que cinema era uma de suas artes favoritas; de graça, no Metrópolis e com tempo livre - imperdível.
Chegou atrasada uns 7 minutos. A sala já estava escura. Sentou e o filme começou simultaneamente. Mochila no colo e pensamentos ainda agitados, foi se deixando levar por cada cena, digerindo-as. Riu bastante. Riu das gargalhadas engraçadas que ecoavam na sala de cinema, riu de satisfação das cenas que voltavam atrasadas à sua mente e riu do humor delicado do filme. Sentiu-se muito bem por estar ali, entre uma aula e outra. Deu aquela sensação de que o universo conspirava para que ela estivesse ali: uma recomendação do filme francês semanas antes, o cartaz no bebedouro, uma aula cancelada, uma incomum falta de fome, a vontade irreversível de ir ao Metrópolis, uma cadeira vazia no canto direito do cinema. Em outras palavras, a falta de companhia, a vontade do dia, o cinema oportuno, um filme francês. Não podia estar mais satisfeita por ser testemunha de uma história de amor cheia de fantasia, muito criativa e cheia de cor. Depois de uns 120 minutos de entretenimento, acabou a sessão. Palmas para o filme de almoço e para a organização. Muitas pessoas começaram a se levantar com um sorriso no rosto, enquanto a luz voltava preguiçosa ao ambiente. Ela observava tudo, lamentando voltar à realidade. Quando as luzes finalmente encheram a sala, recebeu uma surpresa. Se descontrolou ao ver quem se sentava à sua frente: a garota do casaco verde, que vestia uma romântica blusa azul e branca e sorria para uma outra pessoa.
Chegou atrasada uns 7 minutos. A sala já estava escura. Sentou e o filme começou simultaneamente. Mochila no colo e pensamentos ainda agitados, foi se deixando levar por cada cena, digerindo-as. Riu bastante. Riu das gargalhadas engraçadas que ecoavam na sala de cinema, riu de satisfação das cenas que voltavam atrasadas à sua mente e riu do humor delicado do filme. Sentiu-se muito bem por estar ali, entre uma aula e outra. Deu aquela sensação de que o universo conspirava para que ela estivesse ali: uma recomendação do filme francês semanas antes, o cartaz no bebedouro, uma aula cancelada, uma incomum falta de fome, a vontade irreversível de ir ao Metrópolis, uma cadeira vazia no canto direito do cinema. Em outras palavras, a falta de companhia, a vontade do dia, o cinema oportuno, um filme francês. Não podia estar mais satisfeita por ser testemunha de uma história de amor cheia de fantasia, muito criativa e cheia de cor. Depois de uns 120 minutos de entretenimento, acabou a sessão. Palmas para o filme de almoço e para a organização. Muitas pessoas começaram a se levantar com um sorriso no rosto, enquanto a luz voltava preguiçosa ao ambiente. Ela observava tudo, lamentando voltar à realidade. Quando as luzes finalmente encheram a sala, recebeu uma surpresa. Se descontrolou ao ver quem se sentava à sua frente: a garota do casaco verde, que vestia uma romântica blusa azul e branca e sorria para uma outra pessoa.
Para não interromper o fluxo de cinéfilos saindo da sala por sua fileira, resolveu levantar e praticamente foi levada pela multidão até a porta. Há muito tempo que ela esperava um momento de encontro parecido com esse, e agora que o tinha em suas mãos, não era normal desperdiçá-lo. Quando finalmente resolveu dar um "oi", a garota do casaco verde atendeu o celular. Um obstáculo para uma pessoa tímida dos pés a cabeça, como a menina das melodias. Esperou um pouco para ver se espontaneamente a garota do casaco verde se levantava e se esbarrava com ela acidentalmente. Mas nada disso aconteceu. Acometida pela covardia da sra. Poulain, decide ir embora de vez. Ainda gastou um tempo na cantina, fingindo estar interessada por alguns daqueles doces, e o movimento de pessoas começava a lhe incomodar. Correu seus olhos pela multidão, procurando-a. Um sorriso discreto ficou perdido no ar, porque a garota do casaco verde, que de pé se portava na entrada do cinema, não viu essa manifestação. Estava distraída conversando com amigos. Foi então que a menina das melodias pensou em esperar mais um pouco, mas logo desistiu da idéia. Se não a encontrasse, seria mais fácil escrever para ela. Talvez isso representasse que ela mesma, como Amélie, gostava de estratagemas, de bilhetes e de mensagens. Ou, como a personagem principal do filme, isso era só mais um jeito de se manter distante, como um mistério, um fantasma. Desse jeito não haveria decepção e ela continuaria sendo somente a menina das crônicas. Ela sabia que lidava melhor com as palavras do que com as pessoas (ou então isso era só mais uma das mentiras que contava para si mesma).
Finalmente foi andando devagar até seu próximo destino, repetindo para si mesma a sua frase preferida do filme, até que tivesse seu bloco de notas em mãos: São tempos difíceis para os sonhadores. Ela sentia na pele o que isso significava. O dia estava mais bonito que o normal e a série de fatos que aconteceram no dia a fizeram sentar na escada mais próxima, que tinha uma vista privilegiada para o jardim. Um casal namorava ali perto. Um menino de óculos preocupado se sentava no corredor. Ambiente perfeito. Lapiseira, bloquinho, a vontade de fantasiar a vida como a própria protagonista do filme; e ali, às 14h30min nasceu uma crônica. E, no mesmo momento, a realidade se perdeu em um simples papel.